Thursday, 25 December 2025

Dez Abordagens Distintas das Políticas de Saúde Pública (Visão que inclui a União Europeia, Portugal e Macau)

 


A política de saúde pública engloba o conjunto de decisões, regulamentos e acções coordenadas destinadas a proteger e promover a saúde das populações. Até ao final de 2025, este campo tornou‑se ainda mais complexo devido aos efeitos prolongados da pandemia da COVID‑19, ao agravamento das emergências climáticas, ao envelhecimento populacional, à digitalização acelerada dos sistemas de saúde e à crescente atenção às desigualdades estruturais. A compreensão das diferentes abordagens políticas é essencial para avaliar a eficácia, a ética e a sustentabilidade das intervenções de saúde. Entre as várias estratégias existentes, destacam‑se dez abordagens distintas que, embora frequentemente utilizadas em conjunto, representam filosofias e mecanismos de intervenção diferentes.

A primeira é o modelo biomédico e a vigilância epidemiológica, centrado na identificação, controlo e tratamento de doenças. Este modelo continua a ser fundamental na União Europeia, que reforçou o ECDC e expandiu a vigilância genómica; em Portugal, que consolidou o SINAVE e ampliou rastreios; e em Macau, que manteve um sistema de vigilância robusto e tecnologicamente avançado. Embora eficaz e mensurável, esta abordagem tende a ignorar factores sociais e ambientais.

A segunda abordagem é a promoção da saúde e educação, que procura capacitar indivíduos e comunidades para adoptarem comportamentos saudáveis. A UE tem investido em literacia digital e campanhas anti‑tabaco; Portugal reforçou programas de proximidade e campanhas sobre alimentação mediterrânica; e Macau desenvolveu campanhas multilingues sobre estilos de vida saudáveis. Esta abordagem promove autonomia, mas pode responsabilizar excessivamente o indivíduo quando persistem barreiras estruturais.

A terceira abordagem é a saúde ambiental e a regulamentação de segurança, que actua sobre factores como qualidade do ar e da água, habitação e poluição. A UE implementou metas climáticas mais rigorosas; Portugal investiu em energias renováveis e combate à poluição urbana; e Macau reforçou normas ambientais, especialmente em zonas turísticas. É uma abordagem eficaz, mas enfrenta resistência económica e política.

A quarta abordagem, centrada nos determinantes sociais da saúde, reconhece que condições socioeconómicas moldam profundamente os resultados em saúde. A UE integrou estes determinantes nas políticas sociais; Portugal avançou com programas de habitação acessível e combate à pobreza energética; e Macau reforçou apoios sociais e programas para trabalhadores migrantes. Esta abordagem promove mudanças profundas, mas exige coordenação intersectorial e resultados a longo prazo.

A quinta abordagem utiliza instrumentos legislativos e fiscais para moldar comportamentos, como impostos sobre bebidas açucaradas, leis de segurança rodoviária ou restrições ao tabaco. A UE tem regulado alimentos ultra processados; Portugal reforçou impostos e restrições publicitárias; e Macau endureceu leis anti‑tabaco. Estas medidas têm impacto imediato, mas podem gerar resistência pública.

A sexta abordagem foca‑se no acesso universal e na reforma dos sistemas de saúde. A UE expandiu a saúde digital e a interoperabilidade; Portugal reforçou o SNS e a telemedicina; e Macau investiu fortemente em tecnologia médica e integração de serviços. Esta abordagem reduz barreiras financeiras, mas exige grande investimento e consenso político.

A sétima abordagem trata a prevenção de lesões e violência como questões de saúde pública. A UE tem planos de segurança rodoviária e combate ao tráfico humano; Portugal reforçou programas de prevenção de acidentes e apoio a vítimas de violência; e Macau desenvolveu campanhas de segurança no trânsito e mediação comunitária. É eficaz quando baseada em dados, mas sofre com financiamento irregular.

A oitava abordagem é a preparação e resposta a emergências, essencial para lidar com desastres naturais, pandemias e crises inesperadas. A UE criou a HERA; Portugal reforçou a Protecção Civil e planos climáticos; e Macau manteve reservas estratégicas e protocolos de resposta rápida. A dificuldade reside em manter financiamento e prioridade em períodos de estabilidade.

A nona abordagem centra‑se na equidade em saúde e intervenções dirigidas a grupos vulneráveis. A UE desenvolveu programas para minorias e migrantes; Portugal reforçou cuidados primários em zonas carenciadas; e Macau apoiou trabalhadores não‑residentes e idosos com baixos rendimentos. Esta abordagem reduz desigualdades, mas pode gerar percepções de distribuição desigual de recursos.

A décima abordagem vê o desenvolvimento económico como estratégia de saúde, reconhecendo que emprego, infra-estruturas e mobilidade influenciam directamente o bem‑estar. A UE investiu no Pacto Ecológico e mobilidade sustentável; Portugal expandiu o transporte público e programas de coesão territorial; e Macau avançou com a diversificação económica e melhorias na mobilidade urbana. Embora poderosa, a ligação entre políticas económicas e resultados de saúde pode ser difícil de medir a curto prazo.

Estas dez abordagens raramente são aplicadas isoladamente. Políticas eficazes combinam várias estratégias, como se observa no combate à obesidade, que exige rastreios biomédicos, educação alimentar, impostos sobre bebidas açucaradas e melhoria do acesso a alimentos saudáveis. As diferenças entre abordagens residem sobretudo no nível de intervenção individual, contextual ou estrutural. A viabilidade política também varia, sendo mais fácil implementar medidas rápidas do que reformas profundas.

Em síntese, a política de saúde pública em 2025 exige visão de longo prazo, coordenação intersectorial e capacidade de adaptação. As dez abordagens apresentadas oferecem lentes complementares para enfrentar desafios complexos. Um sistema de saúde robusto combina várias estratégias, reconhecendo onde convergem, onde divergem e como podem ser integradas para construir sociedades mais saudáveis e equitativas.

BIBLIOGRAFIA

Organizações Internacionais e Saúde Global

Organização Mundial da Saúde (OMS). World Health Statistics 2024-2025. Genebra: OMS.

Organização Mundial da Saúde (OMS). Health Promotion in the Digital Era: Global Policy Framework. Genebra: OMS, 2024.

Organização Mundial da Saúde (OMS). Global Preparedness Monitoring Board Report. OMS, 2024-2025.

Nações Unidas. Relatório dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. Nova Iorque: ONU, 2024-2025.

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Relatório sobre Desenvolvimento Humano e Equidade em Saúde. PNUD, 2024.

União Europeia

Comissão Europeia. EU4Health Programme: Strategic Priorities 2021–2027. Bruxelas: Comissão Europeia, 2025.

Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). Annual Epidemiological Report. Estocolmo: ECDC, 2024-2025.

Comissão Europeia. European Climate and Health Strategy. Bruxelas: CE, 2024.

Autoridade Europeia de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias (HERA). Strategic Preparedness Report. Bruxelas: HERA, 2024-2025.

Agência Europeia do Ambiente (EEA). Air Quality in Europe Report. Copenhaga: EEA, 2024.

Portugal

Ministério da Saúde. Plano Nacional de Saúde 2021-2030. Lisboa: Ministério da Saúde, 2025.

Direcção-Geral da Saúde (DGS). Relatório de Saúde Pública e Vigilância Epidemiológica. Lisboa: DGS, 2024-2025.

Serviço Nacional de Saúde (SNS). Relatório de Acesso, Telemedicina e Reforma dos Cuidados de Saúde. Lisboa: SNS, 2024-2025.

Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Vigilância Genómica e Epidemiológica em Portugal. Lisboa: INSA, 2024.

Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR). Relatório de Segurança Rodoviária. Lisboa: ANSR, 2024.

Macau

Serviços de Saúde de Macau (SSM). Relatório Anual de Saúde Pública e Prevenção da Doença. Macau: Governo da RAEM, 2024-2025.

Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Relatório sobre Segurança no Trabalho e Prevenção de Acidentes. Macau: DSAL, 2024.

Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). Relatório sobre Qualidade do Ar e Gestão Ambiental. Macau: DSPA, 2024.

Gabinete de Protecção Civil. Plano de Contingência e Resposta a Emergências. Macau: RAEM, 2024-2025.

Determinantes Sociais, Economia e Políticas Estruturais

Marmot, M. The Health Gap: The Challenge of an Unequal World. Edição revista, 2024.

OCDE. Health at a Glance: OECD Indicators. Paris: OCDE, 2024.

OCDE. Social Inequalities and Health Outcomes. Paris: OCDE, 2024.

Banco Mundial. Economic Development and Health Outcomes: Global Review. Washington, DC: Banco Mundial, 2024.

Fundo Monetário Internacional (FMI). Macroeconomic Stability and Public Health Investment. FMI, 2024.

Prevenção de Lesões, Violência e Segurança

Organização Mundial da Saúde. Global Status Report on Road Safety. OMS, 2023-2025.

United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC). Global Study on Homicide and Violence Prevention. Viena: UNODC, 2024.

European Transport Safety Council (ETSC). Road Safety Performance Index. Bruxelas: ETSC, 2024.

Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). Relatório Epidemiológico Anual. União Europeia, 2024-2025.

Organização Mundial da Saúde. Determinantes Sociais da Saúde: Conceitos e Abordagens Políticas. OMS, 2023-2025.

Comissão Europeia. Programa EU4Health: Prioridades Estratégicas 2021-2027. Bruxelas, 2025.

Ministério da Saúde de Portugal. Plano Nacional de Saúde e Prioridades de Saúde Pública 2021-2030. Lisboa, 2025.

Serviços de Saúde de Macau (SSM). Relatórios de Saúde Pública e Prevenção da Doença. Governo da RAEM, 2024-2025.

OCDE. Health at a Glance: Indicadores da OCDE. OCDE, 2024. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Relatório sobre Desenvolvimento Humano e Equidade em Saúde. PNUD, 2025. Banco Mundial.

Desenvolvimento Económico e Resultados em Saúde: Revisão Global. Banco Mundial, 2024.

REFERÊNCIAS

1. (2020). The Use of Evaluation Methods for the Overall Assessment of Health Policy: Potential and Limitations. Cost Effectiveness and Resource Allocation. Retrieved from https://resource-allocation.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12962-020-00238-4

2.Health Policy and Planning – Supplement 3, Article iii35. Oxford Academic. Retrieved from https://academic.oup.com/heapol/article/29/suppl_3/iii35/2912235

3. BMC Health Services Research – Article PDF. BMC Health Services Research. Retrieved from https://bmchealthservres.biomedcentral.com/counter/pdf/10.1186/s12913-025-12494-2.pdf?utm_source=consensus

4.(2025). ScienceDirect Article on Public Health Policy. ScienceDirect. Retrieved from https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2667321524000258

5. Puddy, R. W., Nelson, C., Ntazinda, A. H., Tomoaia‑Cotisel, A., Kelly, M. A., Kucik, J. E., Murray, C. T., Hall, D., & Siddiqi, S. M. (2024). Distilling the Fundamentals of Evidence‑Based Public Health Policy. Public Health Reports. Retrieved from https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11569633/

6. Framework for Selecting Best Practices in Public Health: A Systematic Literature Review. ResearchGate. Retrieved from https://www.researchgate.net/publication/284160265_Framework_for_Selecting_Best_Practices_in_Public_Health_A_Systematic_Literature_Review

7. Gimbel, R. W., Lekey, F., Zhou, Y., Sokoya, T., Himawan, L., Diaz, S., Jing, X., Shi, L., & Law, T. (2022). Health Indicators as Measures of Individual Health Status and Their Public Perspectives: Cross‑Sectional Survey Study. Journal of Medical Internet Research. Retrieved from https://www.jmir.org/2022/6/e38099/

8. (2001). An Ethics Framework for Public Health. American Journal of Public Health, 91(11). Retrieved from https://ajph.aphapublications.org/doi/10.2105/AJPH.91.11.1776



No comments:

Post a Comment

Dez Abordagens Distintas das Políticas de Saúde Pública (Visão que inclui a União Europeia, Portugal e Macau)

  A política de saúde pública engloba o conjunto de decisões, regulamentos e acções coordenadas destinadas a proteger e promover a saúde d...