Introdução
O aquecimento global, frequentemente
utilizado como sinónimo de alterações climáticas, refere‑se ao aquecimento de
longo prazo do sistema climático da Terra observado desde a era pré‑industrial,
impulsionado sobretudo por actividades humanas como a combustão de combustíveis
fósseis, a desflorestação e diversos processos industriais. Estas actividades
aumentam a concentração atmosférica de gases com efeito de estufa,
intensificando a capacidade do planeta para reter calor. Embora o aquecimento
global seja muitas vezes apresentado como uma ameaça única e homogénea, é mais correctamente
entendido como uma constelação de transformações físicas, químicas e ecológicas
interligadas.
Este texto actualizado até Dezembro de 2025
sintetiza dez dimensões essenciais do aquecimento global,
integrando as avaliações científicas mais recentes incluindo indicadores
climáticos de 2024-2025, como o recorde de calor oceânico e a aceleração da
perda de glaciares e enquadrando estes
fenómenos nos contextos políticos e regionais da União Europeia (UE),
de Portugal e da RAE de Macau.
As Dez Dimensões Fundamentais
do Aquecimento Global
1. Aumento da Temperatura
Média Global à Superfície
A temperatura média global à superfície já
ultrapassou 1,3°C acima dos níveis pré‑industriais em 2023,
prevendo‑se que 2025 seja o segundo ou terceiro ano mais quente de sempre. A
década de 2011-2020 permanece como a mais quente registada, e o ritmo de
aquecimento continua a acelerar.
Na UE, o aquecimento ocorre a um ritmo
aproximadamente duas vezes superior ao da média global,
sobretudo no sul da Europa, onde as ondas de calor se intensificaram. A
estratégia climática de Portugal reconhece este agravamento e as suas
implicações para a agricultura, a escassez de água e o risco de incêndios
rurais.
2. Aumento do Conteúdo de
Calor dos Oceanos
Os oceanos absorvem mais de 90% do excesso
de calor, e 2024 registou o maior conteúdo térmico oceânico de sempre,
tendência que se mantém em 2025. Este aquecimento profundo confirma um
desequilíbrio energético persistente no sistema climático. Para Macau, situado
no Mar do Sul da China, o aumento do calor oceânico contribui para tufões mais
fortes e marés de tempestade mais destrutivas com riscos evidentes nos últimos
anos.
3. Subida do Nível do Mar
O nível médio do mar continua a subir
devido à expansão térmica da água e ao derretimento do gelo terrestre. Embora a
variabilidade natural possa causar flutuações de curto prazo, a tendência de
longo prazo é inequivocamente ascendente, com os níveis de 2025 próximos dos
valores mais elevados registados. Regiões costeiras de baixa altitude incluindo
Macau, o estuário do Tejo em Portugal e várias zonas atlânticas europeias enfrentam
riscos crescentes de inundações costeiras, danos em infra-estruturas e intrusão
salina.
4. Perda da Criosfera:
Degelo de Glaciares e Mantos de Gelo
A criosfera está a sofrer um declínio
rápido. No ano hidrológico de 2023/2024, os glaciares globais perderam um
recorde de 1,3 metros de equivalente em água. A Gronelândia e
a Antárctida continuam a perder massa a ritmos acelerados. Os documentos de
planeamento climático de Portugal destacam o declínio da criosfera global como
um dos principais motores da subida do nível do mar a longo prazo, com
implicações directas para as estratégias de adaptação costeira.
5. Acidificação dos
Oceanos
Com o aumento das concentrações
atmosféricas de CO₂, os oceanos absorvem mais deste gás, formando ácido
carbónico e reduzindo o pH da água do mar. A acidificação ameaça recifes de
coral, moluscos e organismos planctónicos que são elementos fundamentais dos
ecossistemas marinhos. Para Macau e a Grande Baía, esta tendência afecta as
pescas e a aquacultura, sectores essenciais para a economia e para a segurança
alimentar regionais.
6. Alterações nos Padrões
de Precipitação e Eventos Extremos de Chuva
Uma atmosfera mais quente retém mais
humidade, intensificando a precipitação em algumas regiões e agravando a seca
noutras. Em Agosto de 2025, eventos climáticos extremos tinham provocado
impactos significativos nos sistemas alimentares e deslocações populacionais em
várias regiões.
·
Portugal
enfrenta secas mais frequentes, sobretudo no Alentejo, e episódios de
precipitação intensa.
·
A UE regista
riscos acrescidos de cheias na Europa Central e de seca no Mediterrâneo.
·
Macau está cada
vez mais exposto a chuvas extremas associadas a tufões e à variabilidade
monçónica.
7. Aumento da Frequência
e Intensidade das Ondas de Calor
As ondas de calor tornaram‑se mais
intensas, prolongadas e frequentes. A Europa tem enfrentado algumas das ondas
de calor mais severas do mundo na última década. O planeamento climático actualizado
de Portugal (NECP 2024) identifica o calor extremo como um risco nacional
prioritário, com impactos na saúde pública, na procura energética e na
produtividade agrícola.
8. Amplificação Árctica e
Degelo do Permafrost
O Árctico continua a aquecer entre duas a
quatro vezes mais depressa do que a média global. A redução da extensão do gelo
marinho amplifica o aquecimento através do efeito de albedo. O degelo do
permafrost liberta metano e CO₂, reforçando o aquecimento global. Estes
processos influenciam os padrões climáticos europeus, incluindo a instabilidade
da corrente de jato, que contribui para fenómenos meteorológicos extremos.
9. Alterações na
Distribuição dos Ecossistemas e na Fenologia
As espécies estão a migrar para latitudes
mais elevadas ou para altitudes superiores, e os eventos biológicos sazonais
estão a alterar‑se. Desfasamentos entre espécies como polinizadores e plantas
em floração perturbam o funcionamento dos ecossistemas. Em Portugal, estas mudanças
afectam a agricultura (por exemplo, floração mais precoce de árvores de fruto)
e a biodiversidade. Em Macau, os mangais e espécies subtropicais estão a
ajustar‑se ao aumento da temperatura e à subida do nível do mar.
10. Aumento da Frequência
e Intensidade dos Incêndios Rurais
As épocas de incêndios tornaram‑se mais
intensas devido ao calor, à seca e à redução da humidade da vegetação. A bacia
mediterrânica incluindo Portugal tem vivido algumas das épocas de incêndios
mais destrutivas da Europa. A estratégia climática portuguesa recorda que os
incêndios de 2017, que transformaram temporariamente o sector do uso do solo
num emissor líquido de carbono, permanecem um marco da vulnerabilidade
climática nacional.
Interligações e Ciclos de
Retroalimentação
Estas dez dimensões interagem através de
ciclos de retroalimentação poderosos:
·
A Amplificação
Árctica (8) acelera a perda da criosfera (4) e o aumento da
temperatura global (1).
·
Os incêndios
rurais (10) libertam carbono, reforçando o aquecimento (1).
·
O calor
oceânico (2) intensifica tempestades, agravando extremos de
precipitação (6).
Compreender estas interligações é
essencial para conceber estratégias eficazes de mitigação e adaptação.
Variações Regionais: UE,
Portugal e Macau
União Europeia
A UE continua a ser líder global em
política climática, mas as avaliações de 2025 mostram que as metas actuais são
insuficientes para alterar significativamente as projecções de aquecimento, que
permanecem próximas de 2,6°C sob políticas vigentes. O sul da
Europa enfrenta riscos agudos de ondas de calor, seca e incêndios.
Portugal
Portugal pretende alcançar a neutralidade
carbónica até 2045, antecipando a meta europeia de 2050. O seu
NECP actualizado (submetido em Dezembro de 2024) reforça o planeamento de
mitigação e adaptação, com 41,2% do Plano de Recuperação e
Resiliência dedicado à transição climática.
Macau SAR
Macau enfrenta:
·
subida
do nível do mar,
·
tufões
mais fortes alimentados por oceanos mais quentes,
· eventos extremos de precipitação,
·
stress
térmico em áreas urbanas densas.
Como território costeiro, de baixa
altitude e elevada densidade populacional, as vulnerabilidades climáticas de
Macau alinham‑se estreitamente com as dimensões 2, 3, 6 e 7 do aquecimento
global.
Conclusão
O aquecimento global não é um fenómeno
singular, mas um sistema complexo composto por dez dimensões
interligadas: aumento da temperatura à superfície, acumulação sem
precedentes de calor nos oceanos, subida do nível do mar, declínio da
criosfera, acidificação dos oceanos, alterações na precipitação, eventos
extremos de calor, amplificação árctica, mudanças ecológicas e intensificação
dos incêndios rurais.
Actualizada até Dezembro de 2025, a
evidência científica demonstra uma aceleração generalizada destas tendências,
com implicações profundas para a União Europeia, Portugal e Macau. Enfrentar
esta crise exige uma mitigação global coordenada especialmente através da
redução rápida das emissões de gases com efeito de estufa acompanhada de
estratégias de adaptação robustas e ajustadas às vulnerabilidades regionais.
Bibliografia
Relatórios e Organizações Internacionais
· IPCC – Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas. Relatório de Avaliação AR6: Síntese e Grupos de Trabalho I, II e III. Genebra: WMO/UNEP, 2021–2023.
· IPCC. Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera num Clima em Mudança. Genebra, 2019.
· WMO – Organização Meteorológica Mundial. Estado do Clima Global 2023; 2024. Genebra: WMO.
· UNEP – Programa das Nações Unidas para o Ambiente. Relatório sobre o Fosso das Emissões 2024; 2025. Nairobi: UNEP.
·
Global Carbon Project. Orçamento Global de Carbono 2023–2025.
Monitorização
Climática e Ambiental
· NOAA – Administração Nacional Oceânica e Atmosférica. Relatórios Climáticos Globais 2023–2025.
·
NASA GISS – Instituto Goddard de Estudos Espaciais. Análise de Temperatura Superficial
GISTEMP 2023–2025.
·
Copernicus Climate Change Service (C3S). Indicadores Climáticos 2023–2025.
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World Glacier Monitoring Service (WGMS).
Boletim Global de Alterações dos
Glaciares 2023–2025.
·
AMAP – Programa de Monitorização e Avaliação do Árctico. Atualização sobre Alterações
Climáticas no Árctico 2023–2025.
Oceanos,
Biodiversidade e Ecossistemas
· IPBES – Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas. Relatórios Globais 2023–2025.
· FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Estado das Florestas do Mundo; Impactos Climáticos na Agricultura 2023–2025.
Artigos
Científicos Relevantes
· Hansen, J. et al. “Global Warming in the Pipeline.” Oxford Open Climate Change, 2023.
· Lenton, T. et al. “Climate Tipping Points: Updated Risks and Implications.” Nature Climate Change, 2023–2024.
· Cheng, L. et al. “Record Ocean Heat Content and Its Implications.” Advances in Atmospheric Sciences, 2023–2025.
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