A Nova Ordem Política Internacional
O ano de 2025
iniciou-se com um dos acontecimentos mais marcantes da década que foi o
regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. A sua tomada de
posse foi acompanhada por uma retórica nacionalista e por medidas imediatas que
visaram reforçar a soberania americana. Internamente, o governo endureceu
políticas migratórias, promoveu cortes em programas sociais e reforçou a
segurança nas fronteiras. Estima-se que mais de 1,2 milhões de imigrantes
irregulares tenham sido deportados nos primeiros meses do mandato,
provocando protestos em cidades como Nova Iorque e Los Angeles, onde a Guarda
Nacional foi mobilizada para conter manifestações. Externamente, Trump
reposicionou os Estados Unidos em relação à NATO, exigindo maior contribuição
financeira dos aliados europeus, e intensificou a presença militar em zonas de
tensão como o Médio Oriente e a América Latina. Esta política “America First” reacendeu
debates sobre proteccionismo, comércio internacional e equilíbrio de poder
entre grandes blocos, colocando em causa a estabilidade de acordos
multilaterais.
Médio Oriente:
Entre Tréguas e Escaladas
No Médio
Oriente, a guerra entre Israel e o Hamas conheceu um cessar-fogo mediado pelos
Estados Unidos e pelo Egipto, alcançado em Sharm el-Sheikh. O acordo permitiu a
libertação de cerca de 200 reféns israelitas e mais de 1.000
prisioneiros palestinianos, bem como maior entrada de ajuda humanitária em
Gaza. Contudo, a ONU alertou que a ajuda continua insuficiente, com mais de 2
milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave. Apesar da
trégua, a paz revelou-se frágil. A exigência de desarmamento do Hamas e a
postura beligerante de Benjamin Netanyahu mantêm o risco de retoma dos
combates. Paralelamente, Israel protagonizou ataques contra instalações
nucleares iranianas, desencadeando uma guerra de doze dias que envolveu
bombardeamentos americanos no Irão. Estes episódios demonstraram a persistente
instabilidade regional e a dificuldade em conter a escalada militar.
América Latina
e a Reconfiguração Estratégica
Os Estados
Unidos reforçaram a sua presença na América Latina, firmando acordos militares
e económicos, como o celebrado com o Paraguai. Os objectivos declarados foram o
combate ao narcotráfico e a contenção de influências externas, nomeadamente da
China e da Rússia. Contudo, as reacções locais dividiram-se em que alguns
governos cooperaram, enquanto outros denunciaram ingerência na soberania nacional.
O impacto regional traduziu-se em maior militarização e em debates sobre
integração económica e política no Mercosul. Em países como o Brasil,
registou-se crescimento económico de 2,9%, impulsionado pela exportação
de matérias-primas.
Europa em Busca
de Unidade
A União
Europeia enfrentou um ano de grandes desafios. A crise energética agravou-se
devido às tensões no Médio Oriente e à necessidade de acelerar a transição para
energias renováveis. Os fluxos migratórios aumentaram, com refugiados
provenientes de zonas de conflito e de regiões afectadas por fenómenos
climáticos extremos. Internamente, a ascensão de partidos populistas em países
como Itália, França e Hungria colocou em causa a coesão comunitária e a
solidariedade entre Estados-membros. Em 2025, mais de 450 mil pedidos de
asilo foram registados na União Europeia, número que reacendeu debates
sobre políticas de acolhimento e integração.
Economia Global
em Transição
A economia
mundial registou sinais mistos em 2025. Segundo a ONU, o crescimento global foi
de 2,8%, abaixo da média pré-pandemia de 3,2%.
- Nos Estados Unidos, o crescimento
foi de 1,9%, com desaceleração do consumo.
- Na Europa, o PIB cresceu apenas
1,3%, reflectindo dificuldades na indústria automóvel e tecnológica.
- A China registou crescimento de
4,8%, mas enfrentou fragilidade no sector imobiliário.
- A Índia liderou o crescimento
mundial com 6,6%, consolidando-se como potência emergente.
- Na América Latina, o crescimento
médio foi de 2,3%, com destaque para o Brasil e México.
A inflação
global caiu de 4% em 2024 para 3,4% em 2025, proporcionando algum alívio
às famílias. Contudo, os preços dos alimentos mantiveram-se elevados, com
aumentos de mais de 5% em metade dos países em desenvolvimento.
Tecnologia e
Inovação
A inteligência
artificial consolidou-se como ferramenta central em múltiplos sectores. Na
saúde, algoritmos foram utilizados para diagnóstico precoce e gestão hospitalar,
reduzindo em 15% os tempos de espera em hospitais americanos. Na
educação, plataformas digitais adaptativas personalizaram conteúdos para cada
estudante, com impacto positivo em países como a Finlândia, onde os resultados
escolares melhoraram em 12%. Na indústria, a automação avançada aumentou
a produtividade, mas gerou debates sobre o futuro do emprego. Estima-se que mais
de 20 milhões de postos de trabalho tenham sido substituídos por sistemas
automatizados em 2025. No campo energético, registaram-se avanços
significativos como expansão da energia solar e eólica, desenvolvimento de
baterias de longa duração e projectos-piloto de hidrogénio verde. No espaço, a
NASA e a SpaceX lançaram missões conjuntas para Marte, a China reforçou o
programa lunar e a Europa investiu em satélites para monitorização climática.
Ambiente e
Alterações Climáticas
Ondas de calor,
tempestades e furacões devastaram várias regiões em 2025. A Europa registou
temperaturas recorde, com impactos na saúde pública e na agricultura. A Ásia
enfrentou monções intensas, provocando inundações e deslocações populacionais.
A América sofreu furacões de grande intensidade, causando prejuízos económicos
elevados. Globalmente, registaram-se 393 desastres naturais em 2024-2025,
com 16.753 mortes e perdas económicas de 242 mil milhões de dólares.
O Furacão Melissa atingiu a Jamaica como Categoria 5, causando mais de 80
mortos e prejuízos de 8,8 mil milhões de dólares. A União Europeia
reforçou metas de neutralidade carbónica, impondo restrições a indústrias
poluentes. China e Índia comprometeram-se a reduzir emissões, embora enfrentem
desafios internos.
COP30 em Belém: A Amazónia no Centro da Agenda
Climática
A Conferência das Partes da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30), realizada em Belém
do Pará, constituiu um dos momentos mais simbólicos de 2025. Pela
primeira vez, uma cimeira climática desta dimensão decorreu no coração da
Amazónia, região que concentra a maior floresta tropical do planeta e
desempenha papel crucial na regulação climática global. A escolha de Belém teve
um valor político e simbólico inegável ao colocar a Amazónia no centro das
negociações internacionais. O Brasil assumiu protagonismo como anfitrião,
reforçando a sua posição de liderança na agenda ambiental e climática. A
presença de mais de 190 delegações nacionais e cerca de 70
mil participantes destacou a importância global da conferência.
Na COP30, os países reafirmaram a necessidade de
limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis
pré-industriais.
Entre os compromissos assumidos destacaram-se:
·
Financiamento climático: promessa de mobilizar 100 mil milhões de dólares anuais
para apoiar países em desenvolvimento na transição energética e adaptação.
·
Protecção da Amazónia: o Brasil anunciou metas de desmatamento zero até 2030,
reforçando fiscalização e programas de reflorestação.
·
Energia limpa:
expansão de projectos de hidrogénio verde e energias renováveis, com destaque
para parcerias entre União Europeia e América Latina.
·
Justiça climática: inclusão de mecanismos de compensação para comunidades indígenas e populações
vulneráveis, reconhecendo o papel dos povos tradicionais na preservação
ambiental.
Para Belém e para o Brasil, a COP30 representou
não apenas um evento internacional, mas também uma oportunidade de mostrar ao
mundo a riqueza cultural e ambiental da Amazónia. A cidade recebeu
investimentos em infra-estrutura, transporte e hotelaria, consolidando-se como
destino de turismo sustentável. No plano social, a conferência deu visibilidade
às reivindicações de comunidades indígenas e ribeirinhas, que exigiram maior
participação nas decisões sobre o futuro da floresta. A COP30 em Belém ficará
marcada como um ponto de viragem na diplomacia climática. Ao trazer a Amazónia
para o centro das negociações, o mundo reconheceu que não haverá
solução para a crise climática sem a preservação da maior floresta tropical do
planeta.
Sociedade e
Cultura
2025 foi um ano
de mobilização social. Movimentos de defesa dos direitos das mulheres exigiram
igualdade salarial e combate à violência de género. A juventude reivindicou
maior participação política e medidas contra a crise climática. Avanços
legislativos reforçaram direitos da comunidade LGBTQIA+ em vários países. No
Brasil, movimentos sociais como o MST e a Marcha Mundial das Mulheres apontaram
como prioridades a reforma agrária, a política nacional de cuidados e o combate
à violência policial. A Central Única dos Trabalhadores defendeu a ratificação
da Convenção 151 da OIT, que assegura liberdade sindical no serviço público. Na
cultura, o cinema abordou temas como migração, identidade e crise ambiental. A
literatura destacou autores africanos e asiáticos, trazendo novas perspectivas
ao panorama global. A música fundiu estilos tradicionais com electrónica, reflectindo
a diversidade cultural contemporânea.
Segurança
Internacional
O atentado em
Sydney, durante o Hanukkah, foi um dos episódios mais trágicos do ano,
reacendendo o debate sobre segurança em espaços públicos. As autoridades
reforçaram a cooperação internacional em matéria de inteligência e combate ao
extremismo. Além do terrorismo, emergiram novas ameaças como ataques
cibernéticos a infra-estruturas críticas e receios sobre uso indevido da
biotecnologia para fins militares. Em 2025, registaram-se mais de 120
grandes ataques cibernéticos contra hospitais, bancos e sistemas de
transporte, expondo vulnerabilidades da sociedade digital.
Argentina: Inflação Moderada e Desafios Sociais
Em 2025, a Argentina conseguiu reduzir a inflação
para cerca de 30%, após anos de hiperinflação que tinham
ultrapassado os 100%. A estabilização foi alcançada através de acordos com o
FMI e medidas de controlo cambial, mas o impacto social manteve-se evidente
pois os salários reais caíram em média 8% e o poder de compra
das famílias continuou fragilizado. Apesar de um crescimento económico de 5%,
os protestos em Buenos Aires e Córdoba revelaram o descontentamento popular,
com sindicatos a exigir aumentos salariais e maior protecção social. A
Argentina viveu, assim, um ano de transição, entre a esperança de estabilização
e a persistência de desigualdades estruturais.
Venezuela: Crise Estrutural Persistente
Na Venezuela, 2025 foi marcado por uma crise
estrutural que se prolonga há mais de uma década. A economia contraiu cerca de 2,5%,
reflectindo a queda da produção petrolífera e a falta de investimento
estrangeiro. A inflação manteve-se elevada, em torno de 85%,
corroendo o poder de compra da população. A escassez de bens essenciais, como
medicamentos e alimentos, provocou longas filas em Caracas e Maracaibo.
Estima-se que mais de 7 milhões de venezuelanos tenham
emigrado desde 2015, com fluxos contínuos para a Colômbia, Brasil e Estados
Unidos. Politicamente, o governo manteve o controlo através de alianças
militares e apoio externo, mas a crise humanitária venezuelana continuou a ser
uma das mais graves da América Latina.
Portugal: Crescimento Moderado e Pressões
Estruturais
Portugal registou em 2025 um crescimento económico
de 2%, ligeiramente acima da média da União Europeia. O turismo
manteve-se como motor da economia, com mais de 30 milhões de visitantes,
reforçando receitas fiscais e dinamizando o sector hoteleiro. Contudo, o país
enfrentou desafios estruturais como os preços da habitação aumentaram 12%
em Lisboa e Porto, dificultando o acesso das famílias à compra de casa; a
transição energética avançou com novos parques solares no Alentejo, mas os
custos da electricidade continuaram elevados; e a demografia envelhecida
pressionou o sistema de pensões e saúde. Politicamente, o governo enfrentou
críticas pela lentidão na execução de fundos europeus e pela dificuldade em
conter a especulação imobiliária. Ainda assim, Portugal manteve estabilidade
institucional e reforçou o seu papel como destino de investimento tecnológico,
com centros de inovação em Lisboa e Braga.
Macau: Recuperação Turística e Diversificação
Económica
Em Macau, 2025 foi um ano de recuperação e
redefinição estratégica. O território registou mais de 33 milhões de
visitantes, aproximando-se dos níveis pré-pandemia, com forte impacto
positivo no sector do jogo e da hotelaria. Contudo, a dependência do turismo e
do jogo continuou a ser um desafio. O governo lançou programas de
diversificação económica, incentivando áreas como tecnologia
financeira, saúde e educação internacional. O PIB cresceu cerca de 5,4%,
impulsionado pelo regresso do turismo, enquanto o mercado imobiliário
estabilizou após anos de subida. No plano académico, universidades locais
reforçaram parcerias internacionais, consolidando Macau como centro de investigação
e ensino no espaço lusófono e asiático. Socialmente, o território debateu-se
entre a preservação do património histórico e a integração na Grande Baía
Guangdong-Hong Kong-Macau, procurando equilibrar identidade cultural e
modernização económica.
O Futuro
O balanço de 2025
revela um mundo em transição. A política foi marcada por polarização e
redefinição de alianças. A economia apresentou crescimento desigual e desafios
da globalização. A tecnologia trouxe avanços extraordinários, acompanhados de
dilemas éticos. O ambiente evidenciou a urgência de respostas globais às
alterações climáticas. A sociedade mobilizou-se em defesa de direitos e da
sustentabilidade. A segurança internacional expôs vulnerabilidades e novas
ameaças. Em síntese, 2025 ficará registado como um ano de tensão e
transformação, em que o mundo se viu obrigado a confrontar simultaneamente os
desafios da geopolítica, da economia, da tecnologia, do ambiente e da cultura.

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