Wednesday, 17 December 2025

O ano em 2025

 


A Nova Ordem Política Internacional

O ano de 2025 iniciou-se com um dos acontecimentos mais marcantes da década que foi o regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. A sua tomada de posse foi acompanhada por uma retórica nacionalista e por medidas imediatas que visaram reforçar a soberania americana. Internamente, o governo endureceu políticas migratórias, promoveu cortes em programas sociais e reforçou a segurança nas fronteiras. Estima-se que mais de 1,2 milhões de imigrantes irregulares tenham sido deportados nos primeiros meses do mandato, provocando protestos em cidades como Nova Iorque e Los Angeles, onde a Guarda Nacional foi mobilizada para conter manifestações. Externamente, Trump reposicionou os Estados Unidos em relação à NATO, exigindo maior contribuição financeira dos aliados europeus, e intensificou a presença militar em zonas de tensão como o Médio Oriente e a América Latina. Esta política “America First” reacendeu debates sobre proteccionismo, comércio internacional e equilíbrio de poder entre grandes blocos, colocando em causa a estabilidade de acordos multilaterais.

Médio Oriente: Entre Tréguas e Escaladas

No Médio Oriente, a guerra entre Israel e o Hamas conheceu um cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos e pelo Egipto, alcançado em Sharm el-Sheikh. O acordo permitiu a libertação de cerca de 200 reféns israelitas e mais de 1.000 prisioneiros palestinianos, bem como maior entrada de ajuda humanitária em Gaza. Contudo, a ONU alertou que a ajuda continua insuficiente, com mais de 2 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave. Apesar da trégua, a paz revelou-se frágil. A exigência de desarmamento do Hamas e a postura beligerante de Benjamin Netanyahu mantêm o risco de retoma dos combates. Paralelamente, Israel protagonizou ataques contra instalações nucleares iranianas, desencadeando uma guerra de doze dias que envolveu bombardeamentos americanos no Irão. Estes episódios demonstraram a persistente instabilidade regional e a dificuldade em conter a escalada militar.

América Latina e a Reconfiguração Estratégica

Os Estados Unidos reforçaram a sua presença na América Latina, firmando acordos militares e económicos, como o celebrado com o Paraguai. Os objectivos declarados foram o combate ao narcotráfico e a contenção de influências externas, nomeadamente da China e da Rússia. Contudo, as reacções locais dividiram-se em que alguns governos cooperaram, enquanto outros denunciaram ingerência na soberania nacional. O impacto regional traduziu-se em maior militarização e em debates sobre integração económica e política no Mercosul. Em países como o Brasil, registou-se crescimento económico de 2,9%, impulsionado pela exportação de matérias-primas.

Europa em Busca de Unidade

A União Europeia enfrentou um ano de grandes desafios. A crise energética agravou-se devido às tensões no Médio Oriente e à necessidade de acelerar a transição para energias renováveis. Os fluxos migratórios aumentaram, com refugiados provenientes de zonas de conflito e de regiões afectadas por fenómenos climáticos extremos. Internamente, a ascensão de partidos populistas em países como Itália, França e Hungria colocou em causa a coesão comunitária e a solidariedade entre Estados-membros. Em 2025, mais de 450 mil pedidos de asilo foram registados na União Europeia, número que reacendeu debates sobre políticas de acolhimento e integração.

Economia Global em Transição

A economia mundial registou sinais mistos em 2025. Segundo a ONU, o crescimento global foi de 2,8%, abaixo da média pré-pandemia de 3,2%.

  • Nos Estados Unidos, o crescimento foi de 1,9%, com desaceleração do consumo.
  • Na Europa, o PIB cresceu apenas 1,3%, reflectindo dificuldades na indústria automóvel e tecnológica.
  • A China registou crescimento de 4,8%, mas enfrentou fragilidade no sector imobiliário.
  • A Índia liderou o crescimento mundial com 6,6%, consolidando-se como potência emergente.
  • Na América Latina, o crescimento médio foi de 2,3%, com destaque para o Brasil e México.

A inflação global caiu de 4% em 2024 para 3,4% em 2025, proporcionando algum alívio às famílias. Contudo, os preços dos alimentos mantiveram-se elevados, com aumentos de mais de 5% em metade dos países em desenvolvimento.

Tecnologia e Inovação

A inteligência artificial consolidou-se como ferramenta central em múltiplos sectores. Na saúde, algoritmos foram utilizados para diagnóstico precoce e gestão hospitalar, reduzindo em 15% os tempos de espera em hospitais americanos. Na educação, plataformas digitais adaptativas personalizaram conteúdos para cada estudante, com impacto positivo em países como a Finlândia, onde os resultados escolares melhoraram em 12%. Na indústria, a automação avançada aumentou a produtividade, mas gerou debates sobre o futuro do emprego. Estima-se que mais de 20 milhões de postos de trabalho tenham sido substituídos por sistemas automatizados em 2025. No campo energético, registaram-se avanços significativos como expansão da energia solar e eólica, desenvolvimento de baterias de longa duração e projectos-piloto de hidrogénio verde. No espaço, a NASA e a SpaceX lançaram missões conjuntas para Marte, a China reforçou o programa lunar e a Europa investiu em satélites para monitorização climática.

Ambiente e Alterações Climáticas

Ondas de calor, tempestades e furacões devastaram várias regiões em 2025. A Europa registou temperaturas recorde, com impactos na saúde pública e na agricultura. A Ásia enfrentou monções intensas, provocando inundações e deslocações populacionais. A América sofreu furacões de grande intensidade, causando prejuízos económicos elevados. Globalmente, registaram-se 393 desastres naturais em 2024-2025, com 16.753 mortes e perdas económicas de 242 mil milhões de dólares. O Furacão Melissa atingiu a Jamaica como Categoria 5, causando mais de 80 mortos e prejuízos de 8,8 mil milhões de dólares. A União Europeia reforçou metas de neutralidade carbónica, impondo restrições a indústrias poluentes. China e Índia comprometeram-se a reduzir emissões, embora enfrentem desafios internos.

COP30 em Belém: A Amazónia no Centro da Agenda Climática

A Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30), realizada em Belém do Pará, constituiu um dos momentos mais simbólicos de 2025. Pela primeira vez, uma cimeira climática desta dimensão decorreu no coração da Amazónia, região que concentra a maior floresta tropical do planeta e desempenha papel crucial na regulação climática global. A escolha de Belém teve um valor político e simbólico inegável ao colocar a Amazónia no centro das negociações internacionais. O Brasil assumiu protagonismo como anfitrião, reforçando a sua posição de liderança na agenda ambiental e climática. A presença de mais de 190 delegações nacionais e cerca de 70 mil participantes destacou a importância global da conferência.

Na COP30, os países reafirmaram a necessidade de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.

Entre os compromissos assumidos destacaram-se:

·         Financiamento climático: promessa de mobilizar 100 mil milhões de dólares anuais para apoiar países em desenvolvimento na transição energética e adaptação.

·         Protecção da Amazónia: o Brasil anunciou metas de desmatamento zero até 2030, reforçando fiscalização e programas de reflorestação.

·         Energia limpa: expansão de projectos de hidrogénio verde e energias renováveis, com destaque para parcerias entre União Europeia e América Latina.

·         Justiça climática: inclusão de mecanismos de compensação para comunidades indígenas e populações vulneráveis, reconhecendo o papel dos povos tradicionais na preservação ambiental.

Para Belém e para o Brasil, a COP30 representou não apenas um evento internacional, mas também uma oportunidade de mostrar ao mundo a riqueza cultural e ambiental da Amazónia. A cidade recebeu investimentos em infra-estrutura, transporte e hotelaria, consolidando-se como destino de turismo sustentável. No plano social, a conferência deu visibilidade às reivindicações de comunidades indígenas e ribeirinhas, que exigiram maior participação nas decisões sobre o futuro da floresta. A COP30 em Belém ficará marcada como um ponto de viragem na diplomacia climática. Ao trazer a Amazónia para o centro das negociações, o mundo reconheceu que não haverá solução para a crise climática sem a preservação da maior floresta tropical do planeta.

Sociedade e Cultura

2025 foi um ano de mobilização social. Movimentos de defesa dos direitos das mulheres exigiram igualdade salarial e combate à violência de género. A juventude reivindicou maior participação política e medidas contra a crise climática. Avanços legislativos reforçaram direitos da comunidade LGBTQIA+ em vários países. No Brasil, movimentos sociais como o MST e a Marcha Mundial das Mulheres apontaram como prioridades a reforma agrária, a política nacional de cuidados e o combate à violência policial. A Central Única dos Trabalhadores defendeu a ratificação da Convenção 151 da OIT, que assegura liberdade sindical no serviço público. Na cultura, o cinema abordou temas como migração, identidade e crise ambiental. A literatura destacou autores africanos e asiáticos, trazendo novas perspectivas ao panorama global. A música fundiu estilos tradicionais com electrónica, reflectindo a diversidade cultural contemporânea.

Segurança Internacional

O atentado em Sydney, durante o Hanukkah, foi um dos episódios mais trágicos do ano, reacendendo o debate sobre segurança em espaços públicos. As autoridades reforçaram a cooperação internacional em matéria de inteligência e combate ao extremismo. Além do terrorismo, emergiram novas ameaças como ataques cibernéticos a infra-estruturas críticas e receios sobre uso indevido da biotecnologia para fins militares. Em 2025, registaram-se mais de 120 grandes ataques cibernéticos contra hospitais, bancos e sistemas de transporte, expondo vulnerabilidades da sociedade digital.

Argentina: Inflação Moderada e Desafios Sociais

Em 2025, a Argentina conseguiu reduzir a inflação para cerca de 30%, após anos de hiperinflação que tinham ultrapassado os 100%. A estabilização foi alcançada através de acordos com o FMI e medidas de controlo cambial, mas o impacto social manteve-se evidente pois os salários reais caíram em média 8% e o poder de compra das famílias continuou fragilizado. Apesar de um crescimento económico de 5%, os protestos em Buenos Aires e Córdoba revelaram o descontentamento popular, com sindicatos a exigir aumentos salariais e maior protecção social. A Argentina viveu, assim, um ano de transição, entre a esperança de estabilização e a persistência de desigualdades estruturais.

Venezuela: Crise Estrutural Persistente

Na Venezuela, 2025 foi marcado por uma crise estrutural que se prolonga há mais de uma década. A economia contraiu cerca de 2,5%, reflectindo a queda da produção petrolífera e a falta de investimento estrangeiro. A inflação manteve-se elevada, em torno de 85%, corroendo o poder de compra da população. A escassez de bens essenciais, como medicamentos e alimentos, provocou longas filas em Caracas e Maracaibo. Estima-se que mais de 7 milhões de venezuelanos tenham emigrado desde 2015, com fluxos contínuos para a Colômbia, Brasil e Estados Unidos. Politicamente, o governo manteve o controlo através de alianças militares e apoio externo, mas a crise humanitária venezuelana continuou a ser uma das mais graves da América Latina.

Portugal: Crescimento Moderado e Pressões Estruturais

Portugal registou em 2025 um crescimento económico de 2%, ligeiramente acima da média da União Europeia. O turismo manteve-se como motor da economia, com mais de 30 milhões de visitantes, reforçando receitas fiscais e dinamizando o sector hoteleiro. Contudo, o país enfrentou desafios estruturais como os preços da habitação aumentaram 12% em Lisboa e Porto, dificultando o acesso das famílias à compra de casa; a transição energética avançou com novos parques solares no Alentejo, mas os custos da electricidade continuaram elevados; e a demografia envelhecida pressionou o sistema de pensões e saúde. Politicamente, o governo enfrentou críticas pela lentidão na execução de fundos europeus e pela dificuldade em conter a especulação imobiliária. Ainda assim, Portugal manteve estabilidade institucional e reforçou o seu papel como destino de investimento tecnológico, com centros de inovação em Lisboa e Braga.

Macau: Recuperação Turística e Diversificação Económica

Em Macau, 2025 foi um ano de recuperação e redefinição estratégica. O território registou mais de 33 milhões de visitantes, aproximando-se dos níveis pré-pandemia, com forte impacto positivo no sector do jogo e da hotelaria. Contudo, a dependência do turismo e do jogo continuou a ser um desafio. O governo lançou programas de diversificação económica, incentivando áreas como tecnologia financeira, saúde e educação internacional. O PIB cresceu cerca de 5,4%, impulsionado pelo regresso do turismo, enquanto o mercado imobiliário estabilizou após anos de subida. No plano académico, universidades locais reforçaram parcerias internacionais, consolidando Macau como centro de investigação e ensino no espaço lusófono e asiático. Socialmente, o território debateu-se entre a preservação do património histórico e a integração na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, procurando equilibrar identidade cultural e modernização económica.

O Futuro

O balanço de 2025 revela um mundo em transição. A política foi marcada por polarização e redefinição de alianças. A economia apresentou crescimento desigual e desafios da globalização. A tecnologia trouxe avanços extraordinários, acompanhados de dilemas éticos. O ambiente evidenciou a urgência de respostas globais às alterações climáticas. A sociedade mobilizou-se em defesa de direitos e da sustentabilidade. A segurança internacional expôs vulnerabilidades e novas ameaças. Em síntese, 2025 ficará registado como um ano de tensão e transformação, em que o mundo se viu obrigado a confrontar simultaneamente os desafios da geopolítica, da economia, da tecnologia, do ambiente e da cultura.

O ano em 2025

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